sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Mauro Munhoz - Casa em Itu

Mauro Munhoz


Residência, Itu, SP
A construção principal divide-se em vários volumes

Uma cabana contemporânea
Localizada em condomínio fechado em Itu, a cem quilômetros da capital paulista, a casa de veraneio desenhada por Mauro Munhoz ocupa dois lotes e se caracteriza pela divisão do programa em duas construções perpendiculares, estruturadas em madeira.


O projeto leva ao extremo a idéia de que a casa de veraneio é diferente da morada urbana. O campo induziu à criação de espaços abertos e ao uso de materiais como pedra e madeira.

O desenho nasceu da relação entre a topografia e o volume construído. O terreno de 6 500 metros quadrados em aclive foi rearranjado em três platôs, estabilizados com o auxílio de muros de concreto, revestidos com pedras lascadas.

A utilização da topografia como elemento tectônico é recorrente nos projetos de Munhoz. “É a tradição da minha escola”, r, lembrando-se da interpretação topográfica presente, na obra de Vilanova Artigas.

Os platôs criam com a construção uma relação de meios níveis, com cinco pisos diferentes: no mais baixo estão as dependências de empregados e a garagem; no segundo platô fica a piscina.

A área social (estar, estar aberto e sala das crianças), a cozinha e o quarto das crianças estão no terceiro nível; os dormitórios de hóspedes ocupam o quarto nível, que corresponde ao terceiro platô; e, por último, no quinto piso, está o quarto principal.

Além da divisão em níveis, a casa, que é estruturada em madeira, possui dois blocos bem definidos - ligados pela escada -, o que separa o setor de hóspedes do restante. A idéia não é isolar o núcleo familiar, mas facilitar o uso, pois, na ausência de visitantes, só é aberta a ala principal.

O bloco maior, perpendicular à rua, é mais complexo, e um de seus espaços mais interessantes é o acesso. Ele se comporta como um estar aberto,
onde também são feitas as refeições, pois a casa não possui sala de jantar formal.

O pavilhão envidraçado da sala principal, sobre pilotis, é isolado das demais dependências.
Com vista privilegiada para o interior da propriedade e para o condomínio, esse espaço possui cobertura curva protegida por manta termoplástica.

O volume principal possui mais duas formas de cobertura: uma é plana, com o mesmo tipo de manta, e é utilizada como varanda do quarto principal e para áreas técnicas; a outra é inclinada, com telhas de barro do tipo francesa.

Esse mesmo tipo de cobertura foi utilizado no pavilhão de hóspedes, que possui circulação aberta e está implantado paralelo à rua. As duas construções conformam a implantação em L, voltada para o norte, que circunda a piscina.

Os beirais são o ponto alto da estrutura de madeira. Circundando quase toda casa, eles têm largura entre 1 e 3 metros e são compostos por peças maciças de 9 centímetros de espessura, apoiadas em vigas de madeira. Com configuração quase plana, cobrem também os sanitários do pavilhão de hóspedes.

Conferindo horizontalidade à residência, à maneira de Frank Lloyd Wright, os beirais são protegidos por manta e funcionam como calhas das coberturas inclinadas.

Segundo o autor, o tipo de estrutura utilizado permite controle maior entre projeto e obra, uma vez que, por ser industrializada, ela necessita de detalhamento mais preciso. Com isso, o tradicional construtor dá lugar a um gerenciador, que contrata prestadores de serviços.

Além da estrutura, diversos outros elementos - por exemplo, ripados, bancos, pisos, forro e caixilhos - também são de madeira.

Outra característica incomum da construção é a execução dos pisos: em vez do assoalho, presente em casas de madeira, foi criada uma fina camada de concreto, que se comporta como contrapiso. Além de poder receber pastilhas, por exemplo, essa solução funciona como isolante acústico. Os fechamentos são em alvenaria - parte dela é encapada por ripado horizontal.

Com essa cabana contemporânea, Munhoz se aproxima da maturidade, criando obra própria,
que mescla influências de Wright, Artigas e a experiência paulista com estrutura de madeira, difundida por Hélio Olga e Marcos Acayaba.

Beirais planos, com manta termoplástica e madeira maciça
com nove centímetros,protegem a construção


A conformação em L fica evidente a partir
da circulação aberta do espaço de hóspedes

Em pilotis, o estar é abrigado sob cobertura
curva e grandes beirais

O bloco de hóspedes assenta-se sobre
muro de lascas de pedra

Ripado protege o sanitário do casal

Aberturas altas beneficiam o pavilhão
de hóspedes com o sol nascente

A escada interliga os volumes

Vista do interior da sala de estar

Aberturas horizontais da cozinha
possuem conformação moderna
 
O estar aberto é o acesso principal.